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  Consegui, finalmente, encontrar paz noutro corpo que não o teu. Já sou capaz de adormecer ao som do bater do coração de outra pessoa. Já sou capaz de me sentir em casa ao encostar a cabeça ao peito de outro alguém que não és tu.

  Assombraste-me por muito tempo (e tenho que confessar que ainda o fazes às vezes), foste extremamente indelicado e entraste pelas traseiras do meu coração sem sequer pedir licença e perdeste-te nos labirintos do meu cérebro. Contaminaste o meu sangue, assaltaste os meus pensamentos e roubaste o que restava da minha sanidade. Uma parte de mim vai ficar sempre junto de ti, por mais que eu não queira mas por uma vez consigo sorrir ao olhar para os olhos de outro rapaz e consigo amá-lo com aquilo que resta de mim.

  A verdade é que não me deixaste muita coisa para dar, foste egoísta e possessivo e ficaste com tudo de mim. Estive perdida durante muito tempo; passei dias e meses a tentar tornar-me alguém que te agradasse, que te fizesse voltar e não era suposto ter de o fazer. Passei ainda mais tempo a tentar construir-me de novo e a encontrar-me, a pôr tudo de volta ao seu sítio e a aprender a deixar-te ir. Essa foi a parte mais complicada: abandonar-te. Senti-me como um toxicodependente que está a deixar de consumir até porque tu eras, de facto, uma droga. Estava a ter uma overdose constante de ti. Passei por períodos de abstinência, passei por todo o tipo de ataques de pânico, passava as noites em branco e ouvir o teu nome era o suficiente para ter de começar tudo de novo.

  Até que ele apareceu e agradeço todos os dias aos astros porque ele foi o meu antídoto. Adotou todos os meus demónios e chegou mesmo a aniquilar alguns, levantou-me do chão e nunca me deixou cair, amou-me com todas as minhas inseguranças e defeitos e acalmou o meu mau temperamento. Expulsou-te de mim e deu-me paz. Trouxe-me silêncios reconfortantes e lágrimas de pura alegria. Trouxe-me de volta e não há palavras suficientes para lhe agradecer.

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